Segunda-feira, 19 de Julho de 2010

...

...Depois, descubro que por vezes faço-te ter frio. Que subo vezes demais na montanha e depois já nem sei se a montanha sou eu, se sou eu a querer ser algo que me proteja. Mas hoje, olha, estou a descer desta montanha, que acredito fazer parte de mim, mas nunca será a minha totalidade. Vou visitar o teu vale, que nunca esqueço. (Mas tenho ravinas e por vezes fico presa nelas.) Depois da conversa do outro dia onde quase me pareceu que me acusavas de te ter desarreigado, ao deixar Coimbra, eu comecei por recorrer a uma desculpa. - Deixei Coimbra, porque...Porque... Tu sabes as desculpas que dei a mim mesma... Uma delas que tenho de dar-te espaço. Outra que tenho de respeitar o teu espaço. Outra; Que sei que és sui generis, (E és, miúda, e és.), mas que raio terá isso a ver com a minha saída dessa terra? "- Nada, Mãe!" - Dirias tu já a olhar-me de soslaio. Deixei Coimbra, não por tua causa, mas isto é redundante, pois sei que sabes que assim é, mas porque necessitava mudar de cidade. Um local pode sufocar-nos. Ter demasiadas memórias, ter um ambiente que nos consome e eu ao contrário de ti, meu amor, nem sempre fico e enfrento. Ei! Mas atenta nunca te disse que era perfeita, antes pelo contrário desde petiz te tenho dito que sou imperfeita. Aliás se fosse perfeita, nunca teria acontecido uma conversa como aquela do fim-de-semana. Talvez o que me tenhas tentado transmitir é que sentiste desamparo, quando eu considerei que sempre estive para ti, mesmo não estando a viver na mesma cidade. Mostraste a tua artilharia e eu, resolvi apresentar-te a minha. Uma artilharia pesada de artifícios, que só serve para que ninguém se aproxime de mim o suficiente, que depois de a usar sempre me parece ser algo carnavalesco que uso para driblar quem me assusta, ou quando receio enfrentar algo que preferia não ter de encarar. Com as minhas crias, foram raras as vezes em que resolvi afundar e afundar-vos numa conversa mais....Digamos mais acalorada. Quando se enervam eu mantenho-nos à tona e jamais em tempo algum, aproximo a língua dos dentes e regurgito uma conversa estéril, até ... Que foi exactamente o que fiz no fim-de-semana passado. (Isto soa-me a título de filme!) Agi como uma primata e embora tenhas escutado desde petiz que as desculpas não se pedem evitam-se. (Eu comecei a frase com, agi...Rectifico já!!! Eu sou primata! As desculpas pedem-se, até porque neste caso, não as consegui evitar. Agora quero que saibas que entre ser primata ou insecto, eu cá escolho o segundo e passas a ser parte da família dos Grilídeos, até porque no que diz respeito às pessoas que amo a minha melodia costuma ser: - Gri Gri...Desculpa, por ter sido uma alarve e ter dito o que disse. (Se és parecida com alguém...É comigo, sua...Sua Montanha!)...Gri Gri...Alto!!! Embora a bem da verdade acredito que sejas semelhante a ti mesma e que existam traços na tua personalidade que sejam similares aos meus, o que é perfeitamente natural, sendo eu a tua educadora.
publicado por MM às 12:07
link | comentar | favorito

Depois da ausência...

Depois da ausência....

...Depois, descubro que por vezes faço-te ter frio. Que subo vezes demais a montanha e o meu pensamento esconde ravinas, onde me quedo e até as conseguir entender, fico sem saber se a montanha sou eu, se sou eu a querer ser algo que me proteja.

Mas hoje, olha...Estou a descer da construção, que faz parte de mim, mas jamais será a minha totalidade e venho até ao teu vale que nunca esqueço.

 

 

 

 

 

publicado por MM às 11:50
link | comentar | favorito
Terça-feira, 16 de Março de 2010

Poupar o planeta individual e universal.

Acarinho-te com o amor incondicional que sinto, enquanto tu diminues o uso de energia no planeta, e usas o autocarro. Não consideras imprescindível ir de táxi como recomendo. És agora autónoma e embora respeites e oiças o que digo e peço, consegues tomar as tuas próprias opções. Se bem que ao ouvir-te arfar e perante o perigo de seres assaltada a minha vontade fosse dar-te um sermão sobre os riscos que corres, a tempo consegui refrear o vendaval, pois sei que os conheces tão bem como eu. Não posso fazer o caminho, ou caminhos que tomares e confio que saberás conduzir-te. É possível que algumas vezes vá discordar e não me agradar o que escolhes, mas és tu que tens de viver a tua vida, não eu, nem ninguém por ti. Ver-te florescer é algo único, mas por vezes pode ser assustador, são uns breves momentos, mas reais e faz parte, digo eu, de quem acompanha a evolução dos filhos.

O teu equilíbrio é agora diferente do anterior. Superaste com mestria, o período onde habitou a confusão, a dor e torpor, onde estiveste submergida, pela perda da tua segunda mãe, deste-te tempo para descobrires que as memórias são como latas de sardinha sem data de validade e podes escolher abrir ou fechar a lata, com a diferença que jamais azedam ou se estragam com o tempo. Se negarmos as saudades, as memórias, elas tendem a revoltar-se, por isso sempre incentivei a não negar o que vivemos e partilhámos com aqueles que amamos.

Agora mais do que nunca, tentas encontrar a tua serenidade e o teu discernimento aumenta, quando descobres que podes e deves estar reconciliada contigo mesma. Aos poucos tens dado conta como vivemos perante a discórdia e entre os conflitos e temos de os saber gerir e isto de saber, parece mais fácil de escrever do que fazer, até porque em momentos em que estamos mais vulneráveis é uma tarefa ardua.

O teu empenho e vocação é notório,acredito que podes fazer e acontecerem coisas extraordinárias espero é que não te esqueças de nunca retirares do teu espírito mais do que aquilo que lhe deve retornar.


Minha pequena Sara(r), tenho muito orgulho de ti.

 

música: Fur Elise
publicado por MM às 17:43
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 9 de Dezembro de 2009

Sara®

Paraste por fim de andar a saltar ao pé cochinho, não sem antes esqueceres que precisas de um pé de apoio no chão para conseguires saltares e tentaste o impossível que é fazer essa acrobacia com ambos os pés no ar. Resultado deste um trambolhão aparatoso.

- “Olha, mãe, com um pé no ar!”

- “Olha mãe com os dois pés no arrrrrr…”

Depois da queda, veio a dor. Tentei Sara® o melhor que consegui e foste indicando algumas feridas e arranhões, mas a cicatrização só agora aconteceu. Aliás vejo-te já com alguma vontade de arrancar a crosta…(Fica queda, que mais dia menos dia ela acaba por cair!)

Tenho orgulho em ti, miúda! (Mesmo por teres tentado andar aos saltos sem pés…Porque ao menos tentaste! Não te podes arrepender daquilo que não fizeste, é bem verdade, mas também jamais vais ficar a remoer sobre como seria se…Ao menos tivesses conseguido permitir-te.

Lembra-te, és Sara desde que eras um embrião, pode demorar mas acabarás sempre por Sara®.

publicado por MM às 03:50
link | comentar | favorito
Quinta-feira, 19 de Novembro de 2009

Rosa-dos-ventos

Hoje… Hoje passo a ferro com um afago com mais vigor ainda todos os teus vincos, esses que nestes últimos tempos foste acumulando. Enquanto redobro o carinho, vou relembrando que não te falta mérito no teu espírito e que todas essas perturbações irão passar.

Quero que saibas que não sou adepta da totalidade de dogmas, aliás se fosse dada a utopias escreveria que não pratico mentalmente nenhum dogma, mas isso seria enganar-te e tentar enganar-me. Não preciso de o fazer.

Sim, pratico algumas verdades absolutas, uma delas é a certeza que a esperança acaba sempre por reaparecer. Outra é que por maior que seja o acidente e por mais marcas que deixe a nossa resiliência acaba sempre por os superar.

Alegra-me que comeces por fim a tentar despir esse suplício que não tem nenhuma serventia para ti e que te abafa os sentidos e a vontade. Pode ser que desta vez, consigas ver o quanto de resplandecente existe ao teu redor e no teu espírito, mesmo quando atravessas momentos negativos, mesmo quando te submetes e te ofereces e oferecem, em sacrifício.

Não vamos dar hoje nomes vulgares com profusão a tudo o que de complicado tens passado, a tudo o que tem provocado esses teus tremores de essência. Não. Hoje eu escolho que vou vociferar:

-- Tenho terror mórbido a tudo o que pode provocar coerção no meu universo., a tudo o que pode lesar e provocar-me dano.

Podes escolher ficar em silêncio, gritares ou simplesmente ficares a ver, existe mais algumas opções e todas são viáveis, só tens de escolher a que é mais apropriada para ti. (Digo-te já que estas palavras em voz alta soam um pouco estranhas, no entanto se tenho necessidade de as dizer, quem me pode impedir além de mim mesma?)

Não existo para posar para os outros, aliás palpita-me que deve ser terrível passar horas imóvel, se tiver que ser o modelo de alguém escolho ser o meu próprio. Os outros vão sempre pintar-te, a escolha das cores com que o fazem isso não podes controlar, mas se resolveres posar que seja par te pintares a ti mesma e sejas tu a usar o pincel nos teus quadros. Acredito que no meio das pinturas que faças ,apareça o que de abundante existe em ti e que teimas em não ver. Verás que nas tuas pinturas existe um equilíbrio que se manterá mesmo nos momentos mais alvoraçados. (Se eu em vez de ser tua mãe, ou melhor ainda, se além disso fosse Einsteiniano, devia conseguir desenvolver uma teoria que explicasse estes momentos, mas não sou. Por isso esquece a parte das teorias! Não as tenho, assim como não tenho crispação para te ofertar. No entanto sentimentos esses não me faltam e estão sempre presentes.)

Um dia destes peço-te que enxotes comigo todas as anátemas que te rodeiam e que são inconfessáveis. Mas se o fizer será quando sentires o aroma intensificado de novas fragrâncias no ar, porque hoje só tenho a pretensão de ver um sorriso vernar na tua essência.

Vou colher brincos-de-princesa para te ofertar, enquanto isso passo a mão na rosa-dos-ventos invisível que tens gravada na pele. Se novamente acontecer sentires que estás perdida podes tactear na tua pele e descobrirás todos os pontos cardeais. Não acreditas? Pois afirmo, que além de estarem na tua pele, também estão tacteados no teu espírito. (Mais um dogma! Se o tiver de o explicar então a afirmação deve-se a ter acompanhado o teu crescimento durante dezanove anos. O que disse foi uma conclusão verídica e já verificável anteriormente.) Mesmo que os ventos mudem, mesmo assim tens traços já em ti que não permitirão que fiques perdida por muito tempo, nem que sintas desamparo. Mesmo que os obstáculos se multipliquem, mesmo que por vezes pareças estar perante um ninho de vespas, mesmo assim terás clareza para te conseguir guiar até outro caminho.

publicado por MM às 20:49
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 18 de Novembro de 2009

...

Hoje menos desnorteada, menos exausta que ontem, ainda assim em negociações com o teu espírito, conversas durante o caminho comigo. Oiço o “toc toc” dos saltos das tuas botas, quase parecem formar uma melodia que acompanha as tuas palavras. A meio do caminho já estás a ficar ofegante, o exercício parece penoso de fazer, no entanto continuas, mais um e outro passo, um pé à frente do outro,  informas-me que já estás quase a chegar.

-“ Estou a abrir a porta.”

Oiço o ranger da porta pelo telefone, assim como nestes últimos tempos tenho ouvido o barulho dos relâmpagos que não pararam de te bombardear, mesmo assim continuaste no teu implacável silêncio.

_ “Os outros não precisam, nem quero que imaginem que estou em sofrimento.” – afirmaste por mais que uma vez.

Tenho acompanhado a forma como tens andado dorida, magoada a tentar decifrar qual é o caminho por onde deves ir. O temporal sem que dês por isso começou a aplacar e reconquistas o teu espaço, em breve encontrarás a tua rota, seja a que começaste, seja outra… Estás em franca recuperação, embora ainda não seja visível para ti. Ou talvez seja eu como mãe que prefira encarar assim. Não sei, mas o tempo o comprovará…

Por agora vou tentando, por vezes de forma inglória, impedir que vás fechando o gradeamento em teu redor.

 

publicado por MM às 04:17
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 11 de Novembro de 2009

Mania de ter padrões

Todos temos padrões repetitivos e persistentes. Não considero grave. A menos que a mania a que te refiras, seja a que é conhecida como crise da Mania, ou

Episódio Maníaco! (Humor eufórico ou facilmente irritável, incapacidade de concluir um pensamento, delírios de grandeza, conseguir e necessitar conversar ininterruptamente durante horas a fio. A chamada conversa da treta, onde se recorrem a trocadilhos, senso comum e adágios.)

Andam para aí muitos maníacos, mas não é o teu caso.

Já quando resolves sitiar o teu universo, isso sim é uma mania manhosa…

 

Nunca lidaste bem com a sensação de impotência. (Mas não conheço ninguém que lide bem com ela. Também não é preocupante.) Quando acontece, resolves que tens fazer algo, seja de forma consciente ou inconscientemente a verdade é que fazes sempre algo. (Aqui está uma mania que tens mantido desde criança).

Vociferas por todos os poros, mas raramente tornas audível aos outros o que pensas. Vociferas em silêncio:

- Tenho direito a pelo menos a uma existência tolerável, por isso não me aborreçam o cérebro! Não me rotulem! Não me massacrem com as vossas opiniões sobre o que faço ou deixo de fazer, se só viram uma parte do filme, porque teimam em querer contar a totalidade do que não viram e nem sentiram? Guardem as vossas sacrossantas opiniões sobre os outros, mas a mim não me estripam mais com palavras, nem com olhares!

Meneio a cabeça quando sinto o teu sofrimento. Estendo-te o meu carinho, mas sem imposições, ou obrigações. Estou aqui, estarei sempre aqui para ti.

publicado por MM às 00:47
link | comentar | ver comentários (1) | favorito
Quinta-feira, 5 de Novembro de 2009

Além disso...Tens-me a mim e a todos os que te amam.

 

 

Tacteias o momento com um cuidado redobrado. Acordas com receio do que hoje terá para te ofertar. Secretamente olhas para o relógio, implorando que o tempo, este tempo onde te sentes cativa da dor, passe num ápice, mas os minutos parecem passar de forma indolente. Vi-te por várias vezes com o olhar preso no relógio da cozinha e a expressão de desânimo no teu rosto, quando comprovavas que afinal não tinham ainda nem passado cinco minutos. Ao mesmo tempo preocupa-te que se passar, venha a ser como ontem e dês por ti a viver num local onde os outros abandalham a tua existência…

Onde não existe mais a tua avó.

 

“- Porquê, mãe? Porquê?”- Repetes mais uma e outra vez o mesmo e eu fico inerte sem conseguir responder-te.

Preocupa-me que a tua construção esteja em perigo de derrocada parcial, embora não o afirmes directamente, vais dando sinais de que algumas pedras da tua construção já se soltaram não estás a conseguir lidar com a dor, por isso uso tabiques e reforço o teu telhado e as vidraças que algumas pessoas tem tido o descuidado de danificar com as suas pedradas e ventanias.

Mostro-te que jamais o teu espírito se tornará uma ruína, seja porque tens mais coragem do que aquilo que imaginas, seja porque até que necessites eu serei o teu apoio e aviso-te já que tenho já andaimes e cimento para retocar o que foi danificado, isto para o caso de tu não o fazeres. (Sei que acabarás por usar da tua tinta, do teu cimento, mas até lá eu empresto-te dos meus. Se bem que mais tarde tenho de te cobrar com juros o uso do material!!!)

 

Clamas por compreensão, por entendimento. Não o fazes com som, mas sim com o teu espírito, por isso e só por isso os outros não imaginam que neste momento não deviam contribuir ainda mais para o teu desgosto. Clamas por esperança, enquanto os pilhantes, os que te querem transformar o espírito numa pústula, tapam os ouvidos, ou sofrem de surdez e cegueira crónica e simplesmente parecem ignorar a tua dor . Duas dores, a perda da tua avó e a perda do que julgarias ser aquela pessoa, estão ambas agora aí a respirar contigo no mesmo espaço e não posso retirar-te nenhuma delas, tenho de esperar que consigas lidar com o teu luto.

Omites a lamúria, a dor, a tristeza, o desconsolo, a saudade, que não te deixa adormecer e enfrentas as querelas desses que te acompanham no dia-a-dia. Faleceu a tua avó e ninguém parece entender que te sentes mais frágil que noutro momento qualquer, nem assim são menos vorazes. Nem assim evitam ressequir-te mais . Mas não é desses que reza este momento. Mas sim daqueles que estão dispostos a gostar de ti pelo que és e te estendem a mão com carinho.

Sei que acabarás por escapar incólume, embora hoje te pareça que tal é improvável, já que agora tentam enredar-te com aquilo que opinam, com os seus olhares, com os seus ditos.

Além da resignação, tens o teu espírito grandioso, tens a coragem e isso jamais os outros podem profender!

 

 

 

 

 

publicado por MM às 21:54
link | comentar | favorito
Quarta-feira, 22 de Julho de 2009

Amavio

Penso em ti, Albufeira, na forma como o mar e as marés da tua vida te
formaram.
Gotículas tuas respigam nos telefonemas e sinto saudade de te dar um
abraço. Umas vezes desentediaste, outras pareces mais entusiasmada,
continuas a tentar apaziguar o amavio que te serviram. Peço-te que
recordes ou tentas recordar o dia em que te expliquei o que era a
palavra “amavio”.
Contei-te uma história, inclusive. Tinhas oito anos e um menino
gostava de ti, só que não sabias bem se gostavas dele.
- Sou muito pequena ainda. Não sei bem o que é gostar e porque gosta
ele de mim.
Disse-te:
- Não escolhemos de quem se enamoramos. Exceptuando os Amavios.
Esbugalhaste o olhar e questionaste:
- O que é um Ama viu?
- Se a ama tivesse visto teria tentado, ou daí talvez não, palpita-me
no entanto que tentaria que a sua petiz não bebesse o Amavio.
Hodiernamente, no tempo de agora, também existem pessoas como a nossa
personagem, o Entontecido. Ele não sabia que tinha portas, ou janelas
para o mundo exterior, muitas vezes era uma habitação vazia, fútil,
outras tantas no interior do entontecido só habitava o ego, talvez por
isso ele tenha resolvido que a casa dele seria um local de culto ao
ego, pode ter sido essa a razão ou outra qualquer, já que o
conhecimento que os outros tinham dele era quase nulo e isso não
parecia preocupá-lo, nem preocupar mais ninguém. Orientava-se por
paralelos ao que pensava e sentia ele e desconhecia que podia ser
retroactivo e mudar o que o estava a despersonalizar. Perdia a
identidade, dia após dia, as ,telhas da sua casa começaram a
desfazer-se, mas ele insistia em nada fazer, acredito que
desconhecesse que era responsável pela vida dele. Todas as noites ele
preparava com lágrimas, uma bebida, lágrimas de solidão, lágrimas da
tristeza que recusava mostrar, lágrimas do vazio que o habitava.
Recolhia-as do seu âmago e depois servia a bebida do amor a outras
habitações.
- Amavio para mim e para vós!
Nem lhe ocorria que estava a enfeitiçá-las. Alimentava o ego e isso
por uns momentos chegava-lhe para não sentir as dores.
-Vamos até Nirvana. - Convidava ele a mais uma habitação que estava
ali à mão de semear.
Mas a bem da verdade o que ele oferecia de verdadeiro era o silêncio
que elas bebiam e sorviam, o resto eram só bagatelas e ele que nem
sabia se procurava a extinção da dor, do vazio descomunal, continuava
no mesmo fingimento.
Tinha sempre desculpas para não resultar. A verdade é que estava
perdido, naquela habitação que mais ninguém entendia. O mais grave não
era a falta de conhecimento de terceiros, já que eles só conheciam o
aparente dele, mas sim existir no Entontecido um rarescente auto
conhecimento. Quando tudo o mais falhava então ele ofertava um
supositício às donas das habitações que tinham bebido o seu amavio. E
elas que se viam a braços com o que ele lhe imputava falsamente,
recolhiam-se no seu íntimo e iam fechando as janelas e as portas. No
futuro iam tornar-se mais cautelosas e levavam daquela experiência uma
marca, além do sentimento de culpa.
Um dia uma lagoa, chegou no meio de uma tempestade e resolveu banhar
aquela habitação que lhe parecia risonha. Gostava de bom humor, se
existia nele algo que até lhe agradava, existia outro tanto que lhe
desagradava. Tentou apaziguá-lo, mas ele disse-lhe:
- És uma Lagoa! Onde já se viu uma relação entre o que é de pedra e
cal e um líquido?
A lagoa virtuosa olhou esmorecida para aquela casa e questionou-se
muitas vezes o motivo de ele estar a agir assim. Não podia ter gostado
de um Narciso, acreditava que ele era uma pessoa diferente daquela, ou
que podia ser mais do que mostrava, mas era assaltada muitas vezes por
a pergunta:
- E se ele só for isso? Posso eu mudar o que ele não quer mudar?
publicado por MM às 18:15
link | comentar | ver comentários (1) | favorito
Domingo, 12 de Julho de 2009

Abaixo a repressão!

Quando eras petiz, receava não ser tão boa mãe como desejaria ser.
Ainda hoje acontece recear o mesmo, ou de alguma forma dar por mim a
pensar que se vos deixei alguma vez sentir desamparo, ou se algo do
vosso passado pode atormentar-vos, ou se vos ensinei a valorizar o
vosso universo. Também acontece congratular-me por saber respeitar os
vossos sentimentos, por na medida do possível ser tolerante e por nos
momentos mais atribulados da nossa vida ter conseguido - talvez não
totalmente, mas em parte - fazer-te sentir que o que te rodeava era
seguro. A minha capacidade de introspecção, diz-me que aqui fiquei em
parte longe do que me propus. Tiveste alturas em que acredito teres
sentido estar em areias movediças e que não te consegui proteger tão
bem quanto gostaria de pensar. Existiram momentos que foram dolorosos
para ti e que te recusas a falares sobre eles, não porque fosse
negligente, mas sim porque não controlamos o que nos rodeia e embora
seja o teu gigante de pedra, a verdade é que nesses momentos, tive de
lidar com as fendas no meu universo.
Nunca quis comprometer o vosso crescimento emocional, mas sei que no
teu passado podem existir recalcamentos que mais tarde ou mais cedo
vão clamar que lhes faças justiça. Sempre acreditei que a nossa
relação tinha uma dinâmica que podia não ser entendida por terceiros,
o que para mim era irrelevante, desde que ambas a entendêssemos, desde
que te ajudasse a seres fiel a ti própria. Desde cedo tenho-te
ensinado e além disso mostrado que ninguém a não ser tu mesma pode
tirar-te o direito de exprimires o que sentes, claro que isso deu azo
a comentários familiares, pois eu tentava entender as tuas lágrimas,
ou se quiseres dito por outra forma tentava, não te castrar e ver pelo
teu prisma o que estava a originar aquela pequena crise no teu
universo, sempre fiz questão de afirmar uma realidade que sinto:
Amo-te por o que és. Ontem falámos sobre um dia seres mãe e afirmaste:
- Vou ser uma boa mãe.
Quero que saibas que não basta afirmá-lo, ou que pelo menos no meu
caso não chegou. Quando afirmei algo assim, tu já habitavas no meu
interior e coloquei a mão sobre a barriga e jurei -te solenemente, que
ainda eras um feto, que seria uma boa mãe, mal acabei de pronunciar
estas palavras e não posso precisar se foi no mesmo dia, ou dias
seguintes, tive a noção que só podia passar à prática o meu juramento
se resolvesse o que estava no meu passado por solucionar. Tinha a
minha infância para resolver, o meu mundo emocional já estava doente e
se não o curasse antes de nasceres, corria o risco de tornar também o
teu universo futuro enfermo. Tive de enfrentar a realidade da minha
infância, sem lhe dar o colorido que nunca lá esteve. Existiam
carências reais que pediam para seres ouvidas e ninguém podia dar-me
outra meninice, na altura pensei, não existe muito a fazer, já é
passado, mas este pensamento não foi tranquilizador, havia algo a
fazer sim, é que aceitar o que se passou, aceitar a verdade sobre o
que se passou, eram e foram essenciais ao meu equilíbrio.
Procura no teu mundo emocional a tua realidade, procura os motivos
para continuares a magoar-te, procura a razão porque não estás a
permitir viver as tuas reacções emocionais, procura o eco ao teu
afecto, que esteve sempre presente desde o teu primeiro momento, tens
a chave que te permite prescindir das máscaras. Preocupa-me que em
dados momentos sejas aquilo que os outros querem e precisam ver e
prescindas de partes do que és e de quem és. Não reprimas o teu valor
próprio. O teu verdadeiro eu não pode deixar de comunicar com o
exterior e se ignorares as tuas necessidades mais prementes, estás a
condenar-te a viveres com um falso eu.
Acredito em ti e na tua potencialidade. Vou acreditar sempre.
publicado por MM às 01:45
link | comentar | favorito

.mais sobre mim

.pesquisar

 

.Julho 2010

Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
15
16
17

18
20
21
22
23
24

25
26
27
28
29
30
31


.posts recentes

. ...

. Depois da ausência...

. Poupar o planeta individu...

. Sara®

. Rosa-dos-ventos

. ...

. Mania de ter padrões

. Além disso...Tens-me a mi...

. Amavio

. Abaixo a repressão!

.arquivos

. Julho 2010

. Março 2010

. Dezembro 2009

. Novembro 2009

. Julho 2009

. Junho 2009

blogs SAPO

.subscrever feeds

Em destaque no SAPO Blogs
pub